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Novo Coronavírus (2019-nCoV)

Origem do novo coronavírus

 

 

Em dezembro de 2019 foi detetado um conjunto de casos de pneumonia na China, cujo agente responsável foi identificado como um vírus nunca antes isolado no Homem. Inicialmente, este vírus foi designado como “novo coronavírus” (2019-nCoV), assim que se detetou a sua relação com a família dos coronavírus.

A esta família pertencem, também, outros vírus, já conhecidos, responsáveis por doenças com alguma gravidade. São exemplos, o vírus SARS-CoV, responsável pela Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), identificado pela primeira vez na China em 2003, e o vírus MERS-CoV, responsável pela Síndrome Respiratória do Médio Oriente (MERS), identificado pela primeira vez na Arábia Saudita em 2012. Taxonomicamente, o novo coronavírus foi designado como SARSCoV-2, e a doença pela qual é responsável como COVID-19.

 

 

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), num documento publicado em fevereiro de 2020, foram identificadas 104 variantes do vírus SARS CoV-2 e, através da análise e sequenciação do genoma destas variantes, foi possível concluir que são semelhantes em 99,9%, não apresentando mutações significativas.

 

 

 

Estirpes

Recentemente, foi publicado um estudo na National Science Review, que dá conta da existência de duas estirpes de SARS-CoV-2: a S e a L. O estudo foi levado a cabo por uma equipa chinesa que, após a análise genética populacional, considerando 103 genomas de SARS-CoV-2, concluiu que estes poderiam ser agrupados, maioritariamente, em duas classes: 

 

  • Estirpe S: menos frequente (~30%) e menos agressiva;
  • Estirpe L: mais frequente (~70%) e mais agressiva.

Apesar de menos prevalente, a estirpe S terá sido a primeira a existir, sendo que a estirpe L evoluiu a partir desta. Os autores observaram que a estirpe L acumulou um número de mutações superior à estirpe S. Este facto levou-os a supor que a estirpe L multiplicar-se-ia e/ou replicar-seia mais rapidamente do que a S e, por este motivo, seria a mais agressiva. Deste modo, a estipe L terá tido maior facilidade em resistir à intervenção humana e, consequência dos mecanismos de pressão seletiva, tornou-se mais prevalente.

Adicionalmente, os autores verificaram que, a partir de janeiro, a estirpe S começou a tornar-se mais comum entre a população chinesa (embora a estirpe L continuasse a ser mais prevalente), o que acreditam ser o resultado de um mecanismo de pressão seletiva mais fraco sobre esta estirpe.

 

As conclusões deste estudo geraram alguma controvérsia entre especialistas da área, sobretudo naquilo que concerne à classificação das estirpes em mais/menos agressivas. Os próprios autores assumem que o estudo é muito limitado e que o tema carece de mais investigação. A International Pharmaceutical Federation (FIP) já fez referência a este estudo e às suas conclusões, alertando que é natural que os vírus sofram mutações, mas que nem todas as mutações se traduzem em maior severidade da doença ou num aumento das taxas de transmissão. Segundo a mesma entidade, é importante conhecer-se o número exato de estirpes do vírus, uma vez que, para as vacinas serem efetivas, têm de ser direcionadas às caraterísticas que se sabe serem comuns a todas, ou à maioria, das estirpes existentes. Felizmente, neste caso, as diferenças genéticas identificadas entre as estirpes não parecem afetar a produção de proteínas que poderão ter interesse para o desenvolvimento de vacinas. De igual modo, não se esperam alterações significativas no modo de transmissão do vírus e nos sintomas por ele causados. Na sequência daquilo que a OMS e a FIP afirmam, surgem as declarações do cofundador da Next Strain – um projeto que analisa dados do genoma de agentes patogénicos. Segundo este, após análise de cerca de 1500 genomas de SARS-CoV-2, é possível estimar que o vírus sofre mutações, em média, a cada 15 dias. Mais uma vez, salienta-se que as mutações não são sinónimo de maior perigosidade. Na verdade, as mutações verificadas são completamente benignas e têm ajudado os especialistas a compreender o comportamento do vírus. À data, não há dados que apontem para uma distribuição geográfica diferencial para as estirpes S e L.